Era uma vez uma linda garotinha de olhos negros e cabelos que mais pareciam com raios solares de tão dourado que eram. Essa linda garotinha vivia em uma vila nas margens de uma floresta com a sua mãe. A mãe tentou trazer para morar com elas a vó da criança, mas ela não queria sair de sua casa no meio da floresta, um lugar que a linda garotinha conhecia muito bem por acompanhar a mãe em suas visitas.
Mas a criança começou a crescer e sua mãe começou a se cansar cada vez mais daquelas caminhadas. Um dia, teve a ideia de mandar sua filha sozinha para levar os mantimentos que a vó tanto gostava, mas, naquela floresta o vento era muito frio e para proteger a filha, sua mãe lhe fizera uma pequena capa com um capuz da cor vermelha. Uma cor que se destacava de todo verde que havia ao redor, caso precisasse, seria fácil encontrar sua filha.
A garota gostou tanto da roupa que, a partir do momento que a mãe a vestiu, nunca mais quis tirar. Com o tempo, acabou ficando conhecida como Chapeuzinho Vermelho por todos seus vizinhos. E a garotinha gostava daquele apelido, quando ouvia alguém a chamando por aquele nome, ela sorria e saia caminhando, saltitante de tão contente e satisfeita com uma roupa tão bonita.
Certo dia, sua mãe fez alguns pães, doces e algumas outras coisas com intenção de levar para a avó da Chapeuzinho, mas depois de arrumar tudo na cesta, sentiu-se extremamente cansada e sabia que não teria ânimo para atravessar a floresta. Ela olhou para a cesta e sentiu-se triste com tudo que fizera com tanto carinho para a avó, tudo poderia estragar caso não levasse logo. Foi então que ela teve uma ideia.
— Chapeuzinho? — Chamou ela da porta. Sua filha gostava tanto de ser chamada de Chapeuzinho que até mesmo sua mãe adotara o apelido. — Chapeuzinho?
Como Chapeuzinho não estava muito longe de sua casa, depois de alguns minutos lá estava ela diante de sua mãe, com as mãos unidas diante do corpo.
— Querida, preciso que me faça um favor. Como sabe, sua vozinha não tem se sentido muito bem e com certeza ela não vai chegar perto do fogão para cozinhar. — Ela entregou a cesta para a filha. — Você poderia levar essa cesta para ela?
— Claro, mãezinha. — Respondeu Chapeuzinho. Era uma criança bem educada e muito gentil. Chapeuzinho sempre estava pronta para ajudar quem precisasse de sua ajuda. — A senhora não vem comigo?
— Mãezinha está cansada minha querida e você já está bem grandinha, acho que consegue ir até a casa de sua avó, não é mesmo? — Chapeuzinho assentiu com um sorriso nos lábios sentindo-se um pouco mais adulta com aquela responsabilidade. Mas a mãe avisou: — Sei que você conhece muito bem o caminho, mas tome muito cuidado, não converse com estranhos e se alguém lhe oferecer algum docinho, saía correndo.
Chapeuzinho Vermelho meneou a cabeça afirmativamente e com a cesta em seu braço, saiu saltitante pela floresta. Apesar de seguir a trilha para a casa de sua avó, a floresta parecia muito fechada para olhos tão novos e era um lugar perfeito para alguém mal intencionado ficar esperando. Claro que Chapeuzinho não pensava no perigo, ela não sabia exatamente o que significava a palavra medo.
Foi então que, logo a frente percebeu um enorme lobo que a encarava com olhos brilhantes. Achando que poderia ser como os animais de tantos contos de fadas, Chapeuzinho se aproximou e cumprimentou.
— Bom dia para você também, Chapeuzinho Vermelho. — Disse o lobo enquanto observava a garotinha com atenção e apetite.
— Bom dia, mas como o senhor sabe meu nome? — Perguntou o lobo mau.
— Com uma roupa tão linda e que combina tão bem… Imagine que poderia ser mais conhecida como Chapeuzinho Vermelho. Já te vi algumas vezes e parece que nunca tira essa roupa.
— Só tiro para dormir. — Respondeu a criança, inocentemente. — Minha mãe que fez e gosto muito dela.
— Da sua roupa ou de sua mãe?
— Das duas é claro!
— Sinto um cheiro delicioso vindo de sua cesta, Chapeuzinho. O que trazes ai?
Enquanto Chapeuzinho olhava para ver o que mais tinha na cesta, o lobo olhava ao seu redor. Não poderia devorar aquela garota ali, com certeza seria pego pelos lenhadores que trabalhavam por ali, foi quando teve uma excelente ideia.
— Você vai fazer um piquenique?
— Não. — Respondeu Chapeuzinho. — Minha mãe fez algumas coisas para minha vozinha que está muito doente e pediu para que levasse. Era para minha mãe trazer, mas ela estava muito cansada.
— E onde sua avó mora, Chapeuzinho? — Disse o lobo com uma voz calma e amiga. — Eu gostaria muito de visita-la também. O que acha de brincarmos de corrida para ver quem chega primeiro?
— Minha vozinha mora bem no meio da floresta. — Respondeu a inocente garotinha. — Que brincadeira você quer fazer?
— Você vai por esse caminho. — Apontou o lobo. — E eu vou por esse, quem chegar primeiro ganha.
A pobre e inocente Chapeuzinho assentiu com um sorriso no rosto. Mal sabia que aquele lobo havia mandando-a por um caminho mais extenso. Quanto a ele, bem ele conhecia muito bem a floresta e todos seus atalhos. Ele chegaria primeiro, com certeza. Ele saiu em disparada e não demorou muito tempo para encontrar a residência da vó de Chapeuzinho. Ele bateu à porta.
— Quem está aí? — Perguntou a velhinha que estava deitada em sua cama.
— Sou eu vovó. — Respondeu o lobo imitando a voz de uma criança. — Vim lhe trazer alguns pãezinhos e ver como a senhora está.
Assim que a vovó abriu a porta, o lobo se atirou sobre ela e, como já era bem velhinha e não estava se sentindo nada bem, foi fácil para ele vencê-la e devorá-la. Logo em seguida, vestiu as roupas da vó de Chapeuzinho e deitou-se na cama.
Não demorou muito para Chapeuzinho Vermelho aparecer à porta. Havia se distraído e esquecera completamente da aposta com o lobo. Ela bateu na porta e lá de dentro ouviu uma voz cavernosa que não parecia nenhum pouco com a voz de sua avó doente. Chapeuzinho achou que poderia ser algum efeito da doença de sua voz e não deu muita atenção.
— Entre minha netinha. — Pediu o lobo imitando a voz de uma senhora. — Pode entrar.
Chapeuzinho entrou na casa de sua vó e parou ao seu lado. Achou estranho sua vó estar completamente coberta daquele jeito. Mas, lembrou-se que estava doente e poderia ser apenas o frio.
— Trouxe algumas coisas para a senhora comer, vovó.
— Muito obrigado. — Respondeu o lobo com a voz alterada. — Deixe aí e venha se deitar aqui comigo, vem. Estou sentindo muito frio em meus velhos ossos.
Chapeuzinho já estava acostumada em deitar-se com a avó e não pensou duas vezes em atender aquele pedido. Mas, assim que deitou notou que os braços de sua vó estava muito diferente, mas achou que poderia ser por causa da doença também.
— Vovó, por que esses braços tão longos?
— É para te abraçar melhor, minha netinha. — Respondeu o lobo.
— Nossa vovó… Como seus olhos estão tão grandes!
— É para te ver melhor, Chapeuzinho.
— E essas orelhas, vovó? — Perguntou Chapeuzinho. — São tão grandes.
— São para te ouvir melhor, minha netinha.
— E essa boca, vovó, como é enorme?
Nesse momento o lobo percebeu a sua oportunidade e saltou da cama, mostrando sua verdadeira identidade.
— É para te engolir melhor.
O lobo pulou em cima de Chapeuzinho Vermelho de uma maneira que a garotinha não teve para onde correr e acabou sendo devorada pelo lobo. Satisfeito, o lobo ficou feliz com o resultado de seu dia, mas, duas refeições como aquelas estava deixando-o com sono e cansado. Como estava sozinho e não havia risco de ser descoberto. O lobo mau voltou para a cama e adormeceu.
Na frente da casa, um dos lenhadores que era amigo da vó de Chapeuzinho, estranhou aqueles roncos tão intensos que decidiu dar uma olhada. Quando o lenhador percebeu o tamanho da barriga, se aproximou e notou que algo se mexia lá dentro, foi então que, sorrateiramente, se aproximou do logo e o amarrou sem ao menos despertar.
O lenhador, sem perder tempo, pegou uma tesoura e abriu a barriga do lobo, não demorou muito tempo e viu algo vermelho saindo e notou que era a Chapeuzinho. Mas a barriga ainda estava grande e se mexia, mais lentamente, o lenhador fez um corte naquele lugar e eis que a vovozinha sai toda debilitada. Com as duas salvas, o lenhador pega o lobo e o leva para fora, dizendo que não queria fazer sujeira na casa da vovozinha.
Depois de alguns segundos, as duas que estavam no interior da casa se limpando ouviram um disparo e imaginaram que o lenhador tinha dado fim aquele ousado lobo mau.
Não demorou muito tempo e o lenhador apareceu na casa da vovozinha e disse que o perigo havia sumido para sempre da floresta e os três sentaram-se à mesa e comeram as delicias que a mãe de Chapeuzinho preparara com tanto amor e carinho. E foi naquele mesmo instante que Chapeuzinho decidiu nunca mais ignorar qualquer conselho de sua mãe e nunca mais falou com nenhum estranho.
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